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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Órfãos de Xavi

Como já tenho dito, é um prazer ler as crónicas de Santiago Segurola. Mais uma que pode ser lida no Diário de Noícias:

O pequeno corpo de Xavi contém todos os segredos do futebol. É um manual com botas, o tipo de jogador que transmite às suas equipas o ritmo adequado, os passes necessários e a capacidade para detectar as fraquezas dos adversários. Xavi funciona no meio-campo como um entomólogo. Analisa todos os detalhes - os grandes, os pequenos e os microscópicos - e depois toma decisões, quase sempre de forma favorável à sua equipa, quase todas letais para os adversários.

Os espanhóis recordam Xavi em todas as categorias internacionais. Nos seus primeiros anos, ganhou o Mundial juvenil de 1999 e a medalha de prata dos Jogos Olímpicos de Sydney. Sucedeu a um mito como Guardiola e instalou-se no Barcelona com 18 anos. Conquistou seis Ligas, duas Ligas dos Campeões, uma Taça do Mundo de clubes e o último Mundial. É o jogador mais respeitado e seguramente o melhor que o futebol espanhol produziu.

O palmarés de Xavi recorda-nos o seu peso em todos os lugares onde esteve. Ao redor deste centrocampista fenomenal quase sempre se formaram equipas brilhantes e ganhadoras. Equipas submetidas ao critério de um jogador obsessivo que demorou a ter o reconhecimento que hoje recebe. Com a perspectiva da história, Xavi é um génio indiscutível, o tipo de futebolista que aumenta exponencialmente o rendimento dos companheiros. Sem dúvida a sua carreira não tem sido fácil. Em alguns momentos consideraram-no o principal responsável pelos fracassos do Barça e da selecção.

Há um ano, o tablóide inglês Daily Mail publicou uma fotografia da cerimónia de entrega do prémio da FIFA para o melhor jogador do Mundo. Lá estavam Messi, Cristiano Ronaldo, Rooney, Fernando Torres e Xavi. "Os quatro melhores jogadores do Mundo e um tal Xavi", era o título do Daily Mail. O critério infame do jornal sensacionalista não impede que se pense que Xavi recebeu a consideração que merece. Com toda a segurança, foi mais apreciado por futebolistas e treinadores que por jornalistas e adeptos.

Xavi não é um jogador fácil de compreender. Não é rápido, não é forte e não é goleador, mas ninguém pensa mais rápido, nem é mais competitivo e ninguém encontra melhor os avançados que ele.

Num jogo normal passa a bola 90 vezes com 95% de precisão. Num bom ultrapassa os 100 passes, com 98% de certeza. Muitos são simples, previsíveis. Outros desestabilizam o sistema defensivo dos rivais. E alguns reinventam as partidas, como normalmente acontece no Santiago Bernabéu [estádio do Real Madrid].

A sua interpretação do jogo mudou a forma de ver o futebol em Espanha. Pode-se dizer que Xavi ensinou os adeptos espanhóis a interpretar o jogo de forma diferente. Este legado gigantesco explica a sua importância nos últimos dez anos. Agora Xavi tem 30 anos e começa a sofrer o peso da idade. Doem-lhe as penas, os ligamentos estão inflamados, a fadiga é evidente. Há uns dias pediu ao seleccionador Del Bosque e a Pep Guardiola duas semanas de descanso. Não podia mais. Há que temer o futuro declínio do centrocampista do Barça. Nem a selecção, nem a sua equipa serão as mesmas sem este jogador irrepetível. Espanha sofreu cada vez que não contou com Xavi. Em Buenos Aires foi destroçada pela Argentina. O Barcelona tem Messi, mas nem o jogador argentino pode remediar a ausência do "grande arquitecto". O humilde Maiorca empatou no domingo em Camp Nou [1-1,para a sexta jornada da Liga espanhola]. Apesar de não jogar mal, o Barcelona procurava o "piloto" do seu futebol. Ele não estava. Faltou Xavi e a sua equipa sentiu-se órfã.

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